
“Você é fria.”
Apaixonei-me, entreguei-me; fiz chover e fiz ensolarar. Fiz terras desabarem; vulcões entrarem em erupção; terremotos destruírem cidades… A fertilidade de minha imaginação inundou-me com todos esses desejos e deixou-me embriagada com o vinho da expectativa. Vinho amargo, diria eu na minha pobre ingenuidade. Viciei-me no seu corpo; na sua voz rouca ao falar e seus lábios levemente tocarem meus ouvidos, fazendo todos os pelos de minha nuca se eriçarem. A constância de sorrisos desenhados em meu rosto tornou-se imensa e distantemente notável. A felicidade era cristalina. Todas as pessoas ao redor eram contagiadas pela alegria, e já sabiam o motivo da mesma. Ele. O garoto que avistei no cais, com os cabelos emaranhados graças ao vento que nos envolvia. Ele abasteceu-me de felicidade; encheu o tanque. E aquilo, apartir dali, moveu todo o meu percurso durante anos. Mas, após uma longa viagem, o tanque estava vazio, seco e frio. E a confusão dominava a mente do garoto, afinal, nós sabíamos que não podia acabar. O tanque havia furado. Consertar era possível, é claro, porém sem querer desperdiçar tempo, o garoto preferiu abandoná-lo. Surpresa: este tanque sou eu.
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